O Brasil passa por um momento histórico onde uma onda de denúncias, ajustes e ações anti-corrupção atinge todas as camadas da sociedade. De um lado, empresários ricos de empreiteiras, políticos e executivos de empresas públicas sendo julgados e presos por esquema de corrupção sobre compras públicas e, do lado do povo, por inviabilidade de prendermos a muitos, o governo prepara novas leis para coibir as “maracutaias” que executamos em nosso dia a dia.
Um exemplo é o seguro desemprego, auxílio aos recém desempregados que teve, justo durante um período de baixa taxa de desemprego, um grande aumento de despesa. Os gastos com seguro-desemprego saltaram de R$27,8 bilhões em 2008 para R$47,7 bilhões em 2013. Claro que podemos justificar que o número de profissionais registrados aumentou elevando assim o número de usuários do sistema mas a conta me parece simples: eu trabalho 6 meses, e depois fico 6 meses sem trabalhar, recebendo auxílio. Para conseguir isso, só preciso ser demitido, seja fazendo corpo mole e dando razões para tal, seja negociando diretamente com o patrão um acordo bom entre as partes. Na teoria, é bom pra todos, afinal, precisamos aproveitar dos benefícios que o governo dá e que nunca usamos, certo?
Isso nem de longe justifica que os governantes que elegemos e que nos representam façam uso de seu poder para enriquecimento ilícito. Da mesma forma que não justifica que empresários enriqueçam conseguindo contratos milionários às custas de pagamento de propina, que, eles sabem muito bem, levam o dinheiro diretamente do bolso do povo para o bolso de indivíduos ou partidos em busca de inflar poder ou simplesmente enriquecer. E ainda que se sintam forçados pela situação, lucram com ela e crescem com o esquema.
Na Paseli ajudamos empresas de tecnologia a vender para o governo. Tentamos eliminar o “gap” existente entre a mentalidade e forma de fazer negócios natural entre o setor público e privado, especial do setor de tecnologia. Semana passada, um empresário de empresa de tecnologia me perguntou se eu realmente acreditava que era possível vender para o governo sem que houvesse propina. Nesta hora pensei em todo o impacto negativo que estes casos de investigação ainda causarão. Pra muitos, os recentes escândalos só comprovam a sabedoria daqueles que evitam trabalhar com governo.
Mas pra quem conhece, sabe que as denúncias, as prisões, os processos de investigação fortalecem um sistema que há 13 anos desde a lei do pregão eletrônico de 2002 dá sinais de transparência. E acreditamos que tais ações anti-corrupção devem coibir os ilícitos e permitirão ampliar a concorrência com a participação de novas empresas e não apenas aquelas já viciadas, envolvidas com servidores corruptos. E os servidores vão ter que aprender que muitas novas empresas vão passar a se interessar em fornecer para o governo, dentro da legalidade, e quem sabe ficarão satisfeitos com melhores serviços. E, sem dúvida, os cidadãos não só ganharão com o diminuição do custo corrupção mas também com melhor atendimento e serviço público.
Por tudo isso, fico muito feliz que esta-se dando passos pra acabar com a impunidade. Ela que tira recursos que são públicos, que deveriam ser acessados pelo povo através de educação transporte, saúde, segurança, etc. Qualquer um que entra no jogo da corrupção está tirando isso da sociedade.
Por Pamela Silva – Senior Partner, Paseli Consulting